terça-feira, 26 de julho de 2011

IGNORÂNCIA VOLUNTÁRIA

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Os últimos dias têm sido pródigos em acontecimentos estranhos e inverosímeis. Bem, na verdade, alguns são estranhos e inverosímeis, outros são previsíveis mas mesmo assim estranhos. O facto de o terrorismo ter chegado a um dos países que servem de referência em termos de desenvolvimento humano é estranho e inverosímil. E mais estranho ainda se torna quando o acto se reveste de aspectos pouco usuais. Estamos habituados a atentados terroristas em países longínquos, em circunstâncias particulares, como resultado de extremismos islâmicos, ou então em países mais próximos, mas com alvos perfeitamente definidos, como é o caso em Espanha e na Irlanda, mormente.
Não estamos habituados a terroristas de 1,90m e loiros, extremistas cristãos e de extrema direita. É uma verdade. Desabituamo-nos de ver estas pessoas como violentas, mesmo após o Holocausto, como exemplo longínquo, ou os crimes do Machado, mais perto e mais recentemente. A verdade é que estamos demasiado próximos, em termos de sistema económico (e apenas, por enquanto) das ideias desta gente para os vermos como extremamente violentos.
Considero o atentado de Utoya como o pior de sempre. Enganados estão todos aqueles que, sabendo das minhas inclinações políticas, se sintam eles próprios inclinados a discordar peremptoriamente. Considero-o como o pior por diferentes razões, e depois cada um julgue por si se tenho ou não razão. Não me é indiferente, mas não mudará, provavelmente, as minhas convicções. Mas isto são opiniões e estas são as minhas, e as minhas razões para catalogar este como o pior atentado de sempre:
  • o confesso terrorista comportou-se como um caçador, percorrendo a ilha em busca de presas;
  • o confesso terrorista diz-se consciente do horror das suas acções, e no entanto, estava convicto de que elas não só eram justificadas, como necessárias. Necessárias a quê? Isso é que me mete verdadeiramente medo;
  • o confesso terrorista manteve uma calma absolutamente olímpica, enquanto abatia seres humanos como se de coelhos se tratassem. Colocar uma bomba é uma acto cobarde, por ser piedoso a quem a põe, pois não vê o sofrimento das vítimas. Abater caça humana indefesa é monstruoso. Um bombista suicida não encara a culpa, um caçador de humanos vê a sua culpa espelhada no terror da cara da sua presa;
  • o atentado dá-se num país com excelentes condições de vida. Imaginem-se, pois, os viveiros de terror que por esse mundo fora estamos a criar.
  • Já aconteceu por diversas vezes nos EUA, mas um atentado deste tipo na Europa era até aqui impensável. Um europeu fazer uma coisa destas contra o seu próprio povo é a prova de que o extremismo, seja ele de que cor for, tem um caminho lógico que leva à violência. E ao contrário do laicismo, a religião, que afirma a sua supremacia sobre todas as outras, tem esse caminho lógico perfeitamente definido, até pelo carácter irascível de grandes partes dos seus Livros Sagrados;
Não há palavras para descrever um acto destes, e é provavelmente o mais importante sinal da mudança dos tempos que se avizinha rapidamente. Mais uma vez, sem surpresas, verifico que o povo português decidiu virar a cara a um acontecimento extraordinário, que por mais horrível que seja, devia preocupar-nos de forma decisiva. E falo do povo mais esclarecido, o povo que navega por essa web fora, que procura informação, que sabe, que está minimamente informado. Ter-se dado a preferência à morte de uma pseudo-estrela pop foi um escape perfeito. Virar a cara é sempre mais cómodo. É o Humanismo da ignorância voluntária a funcionar. Em Portugal funciona efectivamente muito bem.

domingo, 24 de julho de 2011

COM UNHAS ENCRAVADAS NÃO SE JOGA À BOLA

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É bem sabido que os futebolistas com unhas encravadas não são grande coisa. Podem até ser grandes talentos do esférico, mas com unhas encravadas é quase impossível jogar a bola. Por isso é que os clubes de futebol gastam fortunas em podologistas e pedicures. Não é uma questão de higiene apenas, trata-se de proteger o investimento nas ferramentas de trabalho dos seus mais renomados funcionários.
A bola joga-se com os butes e mais nada. Outras profissões há em que as ferramentas do ofício são outras. A ferramenta de um político é a boca. E diz o povo, sábio de gerações, que pela boca morre o peixe. O povo é ignorante, pois um político não é um peixe, e pode perfeitamente dizer uma coisa hoje e outra amanhã, porque é perfeitamente normal e ninguém tem nada a ver com isso. O pior mesmo é quando os políticos se calam e metem mãos na massa. Ou seja, quando decidem coisas. Aí é que a tragédia se abate sobre todos nós. Cá em Portugal, não generalizemos...
Ora o que hoje é verdade, amanhã é mentira. E se, quando se faz uma campanha eleitoral, não se vai ao podologista tratar das unhas encravadas, também não deixa de ser verídico o facto de, nessa altura, ninguém mostrar os pés. Hoje diz-se que um aumento de impostos nunca será feito, amanhã, levam-nos o 13º mês... Hoje diz-se que fechar escolas é mau, amanhã fecham-se 286. hoje é bom extinguir concelhos, amanhã talvez se fundam umas freguesias... Hoje é mau haver jobs for the boys, amanhã, dão-se jobs for the boys a amigos, e assim se agradecem os apoios...
Chega-se ao ridículo de duplicar a direcção da Caixa Geral de Depósitos para lá meter o amigalhaço Nogueira Leite a ganhar 22.000 euros mensais, cerca de três vezes mais que o Presidente da República, que, relembre-se, em termos de campanha eleitoral, tinha o ordenado que devia ser considerado tecto para cargos nomeados. Mas isso foi dito em campanha, agora no governo a coisa pia mais fininho, que isto de ter apoios paga-se. E caro. Que o diga o irmão do nosso comentadeiro preferido, o Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Rebelo de Sousa, agora administrador do banco estatal, com ordenado mais ou menos parecido. Resta-nos dizer que o Dr. Pedro Rebelo de Sousa é um renomado economista, formado em Direito...
E que dizer do vetusto Mota Amaral, a quem foi dado gabinete e BMW com motorista e tudo?
Bem, como eu quis dizer no início, com unhas encravadas não se joga à bola. E até estava para falar do Luisão, que mais uma vez vai sair do Benfica e que demonstrou falta de respeito pelo clube à chegada das férias. Mas depois as coisas derivam, e vai daí, das unhas dos pés para os jobs for the boys é um saltinho, pois o nível é o mesmo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

SOBRETAXA OU COM A VERDADE ME ENGANAS

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Os portugueses em geral e os que conheço em particular estão tão abúlicos que nem sequer querem saber como vai funcionar o assalto processamento da sobretaxa anunciada aqui há uns dias pelo primeiro ministro Passos Coelho. A maior parte está convencida que vai pagar 50% do remanescente da dedução do salário mínimo nacional ao seu subsídio de Natal. Até apareceu por aí um “simulador” de taxa a pagar, com uma conta simples: (SN – SMN) x 0,5 = VP, com SN = Subsídio de Natal, SMN = Salário Mínimo Nacional e VP = Valor a Pagar.
Pondo de lado a questão das deduções para IRS e TSU normais, que são aplicadas antes ao valor do subsídio de natal, a coisa funciona de maneira muito, mas muito diversa. Acontece que o imposto chamado sobretaxa (designação realmente feliz) é cobrado em sede de IRS, ou seja, é calculado conjuntamente com o IRS a pagar ao Estado. Assim sendo, as coisas são um pouco mais complicadas e tentarei ser o mais claro possível.
Imaginemos um energúmeno que aufere 1000 euros por mês. Em Novembro, receberia 2000 euros, 1000 do salário e outros 1000 do subsídio. Embora isto não seja bem assim, pois a taxa de IRS é variável e pode levar um pouco mais do tal subsídio e do salário nesse mês de Novembro, admitamos que o cálculo é linear, para facilitar os cálculos a jusante. Ora, em Novembro, o energúmeno que faz chorar o Ti Belmiro não vai receber 2000 euros. Vai receber apenas 1742,5:
1000 (salário) + [1000 (subsídio) – 485 (salário mínimo nacional)] x 0,5 + 485;
Paga, assim, em sobretaxa, 257,5 euros ao Estado. Primeiro reparo: a um salário líquido (o nosso), subtrai-se o salário mínimo nacional bruto. O que até é vantajoso para todos, pois a base de cálculo do imposto é, assim, menor (1000-485 é menor que 1000-430)...
E acaba-se a história! Para 2011.
E para 2012? como vão ser feitas as correcções e deduções ao IRS?
Quando este energúmeno do exemplo entregar a sua declaração de IRS referente a 2011, lá para meados de 2012, esta sobretaxa vai ser recalculada! Ah pois, ou pensavam que tinha acabado a história? Crentes, pá!
Na declaração de IRS vão os rendimentos anuais do energúmeno, ou seja, a matéria colectável. Simplificando cálculos, são 14 meses a 1000 euros por mês, ou seja, 14000 euros. A sobretaxa é calculada da seguinte forma:
14000 / 14 = 1000 euros;
1000 – 485 = 515 euros;
515 x 0,5 = 257,5 euros, que foi o que foi pago em Novembro.
Ou seja, parece que o recálculo da sobretaxa é desnecessário, pois incide exactamente sobre o mesmo valor, e resulta, obviamente, no mesmo valor.
Mas agora imaginem que o energúmeno recebeu um prémio de desempenho de 700 euros em, digamos, Março de 2011. A matéria colectável passa a ser de 14700 euros, pelo que a sobretaxa será calculada:
14700 / 14 = 1050 euros;
1050 – 485 = 565 euros;
565 x 0,5 = 282,5 euros, ou seja, mais 25 euros do que já foi pago em Novembro. O energúmeno será forçado a pagar, em 2012, 25 euros adicionais referentes à sobretaxa, que entrarão nas contas do IRS referentes a 2011.
Agora imaginem que este pobre energúmeno fez horas extraordinárias em 2011, e recebeu por essas horas um valor de, digamos, 1400 euros. A matéria colectável de 2011 passará a ser, assim, 14700 + 1400, ou seja, 16100 euros. A sobretaxa, em sede de IRS, será assim recalculada, em 2012:
16100 / 14 = 1150 euros;
1150 – 485 = 665 euros;
665 x 0,5 = 332,5 euros, ou seja, 75 euros mais do que foi pago em Novembro, 75 euros que o energúmeno terá de pagar às Finanças em 2012.
Agora imaginem que este pobre energúmeno é vendedor e recebe comissões sobre o que vende. Imaginem que ele ganha o salário mínimo nacional, o que quer dizer que o seu subsídio de Natal é de 485 euros brutos, ou seja, de 430 euros, aproximadamente, líquidos. Está isento do pagamento da sobretaxa em Novembro, pois aufere menos que 485 euros mensais. Mas quando for entregar o IRS, entregará a sua matéria colectável de 2011 – incluindo comissões. Imaginemos que ganhou, em média, 665 euros mensais de comissão. A sua matéria colectável é de 430 x 14 + 665 x 12 = 14000 euros. A sobretaxa a calcular em 2012 será a seguinte:
14000 / 14 = 1000 euros;
1000 – 485 = 515 euros;
515 x 0,5 = 257,5 euros, que o energúmeno terá de pagar às Finanças! E estávamos a falar de uma pessoa isenta em Novembro.
Imaginem uma pessoa que ganha o salário mínimo nacional numa caixa de supermercado. Ganha, pois, em termos líquidos, cerca de 430 euros. Logo, está isenta de sobretaxa, não paga nada em Novembro. Mas fez umas horinhas ao longo do ano de 2011, bem necessárias, num valor aproximado de 200 euros por mês. A sua matéria colectável é de 430 x 14 + 200 x 12, o que dá aproximadamente (para efeitos de cálculo fácil) cerca de 8400 euros. A sobretaxa será assim recalculada:
8400 / 14 = 600 euros;
600 – 485 = 115 euros;
115 x 0,5 = 67,5 euros, valor que esta pessoa isenta terá de pagar às Finanças.
Imaginem um energúmeno idoso, reformado, que recebe de pensão 400 euros mensais. Esse idoso vendeu, em 2011, um apartamento onde vivia com a esposa entretanto falecida (hipotético) e mudou-se para casa de um dos filhos ou para um lar de idosos. Está isento de pagar seja o que for em Novembro. Mas apura-se que a mais valia do apartamento que vendeu foi de, digamos, 5000 euros. Assim, para efeitos do cálculo de IRS, a sua matéria colectável em 2011 foi de 400 x 14 + 5000, o que dá 10600 euros. A sobretaxa vai-lhe ser recalculada, em 2012, da seguinte forma:
10600 / 14 = 757,14 euros;
757,14 – 485 = 272,14 euros;
272,14 x 0,5 = 136,07 euros, valor que o idoso pensionista isento terá de pagar às Finanças...
O Ministro das Finanças explicou tudo, é só calcular. Evidentemente, não me dei ao trabalho de fazer cálculos mais complexos, com as taxas variáveis de IRS, que podem levar, por exemplo, a que determinados escalões atinjam valores de sobretaxa até bem superiores a 50% do subsídio de Natal bruto!!! Mesmo assim, está tudo explicado. Sendo a verdade, mentem-nos mais uma vez com todos os dentes que lhes restam na boca, pois as situações que descrevi não configuram que 65% dos trabalhadores dependentes fiquem isentos. Longe disso, pois quem ganhar a miséria que é o salário mínimo nacional e fizer umas horinhas extra para compor o rendimento mensal e descompor o corpo, terá de pagar. E este é apenas um de miríades de outros exemplos...
Com a verdade me enganas...

domingo, 17 de julho de 2011

O SILÊNCIO


Assuntos há que pela sua natureza se tornam difíceis de comentar. Não porque sejam de complexidade extrema, ou de difícil compreensão. Mas antes, e pelo contrário, pela sua extrema simplicidade. Os assuntos são difíceis porque são fáceis. E isto pode parecer um contra-senso mas no fundo não é. Porque no fundo não é o próprio assunto que é difícil de compreender, mas antes as particularidades que o envolvem. E quando um assunto é envolto em silêncio, torna-se difícil de compreender e comentar, porque a letargia em volta dele aconselha cautela e contenção. Características que, sabe quem me conhece, não são as minhas eleitas.
O assunto é fácil. É o novo governo. A particularidade é nova. É o silêncio.
De algumas medidas que este governo está a tomar já todos têm conhecimento. Verdade será o facto de muitos estarem a dar o tal tão propagado benefício da dúvida a um governo que tomou posse há um mês. Particularmente após o despedimento compulsivo do anterior governo que, de trapalhada em trapalhada e de mentira em mentira, não conseguiu evitar que as modas parem hoje onde param. Bem pelo contrário, a sua contribuição para tal foi incomensurável e ninguém pode, em consciência, negar os prejuízos para Portugal que Sócrates e boys xuxas protagonizaram. Compreende-se, pois o silêncio por razões políticas.
Mais ainda se compreende o silêncio quando nos deparamos com um povo desiludido, resignado, que espera sempre que os seus destinos sejam forjados numa espécie de Olimpo onde os “homens” ou, mais particularmente, o “homem” decida. O povo português está intimamente ligado à ideia do sebastianismo, que tão longe levou a miséria neste país, e onde parece que ela tem agora condições óptimas para grassar ainda mais. A resignação leva à indiferença, e o povo português está indiferente ao que lhe possa vir a acontecer.
Este governo, quando ainda oposição e então em campanha eleitoral, que durou dois exasperantes anos, não mentiu sobre os seus propósitos. Dou de barato a ideia da sua autenticidade. Prometeu algumas coisas a que já faltou, como não aumentar impostos sobre o trabalho. Mas a verdade é que a sua principal promessa, corporizada num projecto de revisão constitucional, está e irá ser cumprida nos próximos anos, admitindo que este governo durará anos, e tem condições para tal. A promessa do ultra liberalismo não foi velada ou omitida. Foi às claras que o PSD se aprestou a declarar a sua viragem completa à extrema direita do ponto de vista económico e financeiro, tendo para tal recorrido até aos serviços de Teixeira Pinto, um criminoso financeiro condenado por fraudes bancárias após a sua passagem pela presidência de um dos maiores bancos portugueses.
De alguma forma, e exposto o que expus sobre a desastrada e desastrosa governação Sócrates, o povo anestesiado votou neste programa de governo. Deu-lhe o tal benefício da dúvida. O facto de concordar ou não com as medidas impostas pela comissão de resgate do clube de credores FEEF/FMI/BCE é irrelevante. É-me profundamente evidente que muitos concordaram. Numa visão muito portuguesa do cenário, os males que por aí vinham e virão “são para os outros”. O facto é que, independentemente de alguma vez ter votado Sócrates ou PSD ou outra coisa qualquer, o comum cidadão português vai pagar. Independentemente de ter levado, até aqui, uma existência regrada ou não, independentemente de ter esgotado o saldo de dezenas de cartões de crédito ou não, o comum cidadão português vai pagar. E mais ainda se abate, se torna apático, se resigna, quando este governo se propõe ir mais longe nas medidas que a própria comissão de resgate financeiro.
É fácil compreender este silêncio? Talvez. Na 6ªfeira, houve uma enorme manifestação em Lisboa contra as medidas de austeridade. Impressionante o facto de ter sabido dela e de ter visto imagens da mesma apenas num canal europeu de notícias, no caso, o EuroNews. Nem uma palavra na comunicação cada vez menos social deste país. Aquilo que considerava uma extravagância de alguns lunáticos, ao alegarem que uma “jornalista” terá boicotado a nomeação de um Secretário de Estado, começa a fazer algum difuso sentido na minha cabeça.
O governo anuncia um corte de 50% no subsídio de Natal, para rendimentos sujeitos a IRS acima do salário mínimo nacional, e ninguém diz nada. O governo apresenta a medida com equidade, isentando os trabalhadores dependentes e pensionistas que ganham abaixo do valor desse salário. Congratula-se por 80% dos pensionistas e 65% dos trabalhadores dependentes não serem afectados – e assim ficamos a saber que esta gente não tem rendimentos capazes de os tirar da pobreza e até da miséria, apesar de serem trabalhadores ou de o terem sido no passado. A equidade anunciada é tão perniciosa quanto aqueles que mais auferem, fruto de resultados líquidos de empresas ou de mais valias de capital, não serem afectados minimamente. Pagam os mesmos. E mesmo de entre esses, aqueles que mais auferem poderão desde já procurar as melhores alternativas para, em sede de IRS, poderem recuperar facilmente esse dinheiro em 2012. Pagam os mesmos e que menos ganham. A equidade esgota-se, afinal, num conceito mais lato e bem mais fácil de entender: o hábito. Como habitualmente, pagam os mais desprotegidos.
O governo ordenou o fecho de 226 escolas. Nada se ouviu, quando no passado o fecho de uma escola era motivo de debate nos Prós e Contras. O governo anunciou a extinção e redução do número de freguesias. Nada se ouviu, quando no passado o autarca de Viseu tanto se insurgia contra quem quisesse sequer reduzir o número de funcionários nas autarquias locais. São medidas da comissão de resgate que temos de cumprir? Talvez. Não digo o contrário. O corte do 13º mês não o é com toda a certeza.
O governo anuncia um corte nas taxas de TSU para as empresas, que pode chegar aos 8%. Esta medida representa, simplesmente, o fim da Segurança Social. Ninguém falou. Antes todos se queixavam que um dia não teriam reformas. Hoje, perante a certeza de que não terão, resignam-se e refugiam-se no silêncio. Quem ganhar suficientemente bem, pode optar por descontar para fundos privados de pensões, assegurando assim a sua pensão mais tarde. Aqueles que não têm rendimentos tão altos, limitar-se-ão a descontar dinheiro para uma organização moribunda que nada lhes poderá garantir no futuro. E quando isso acontecer, o que será feito do dinheiro que eu e muitos mais portugueses lá puseram – incluindo empresas? Nem uma palavra.
O governo vai avançar com privatizações em massa. Em massa conforme aquilo que se possa entender, pois a verdade é que já quase tudo está privatizado. E até se lembraram de privatizar a captação de água. Depois de a maior parte da distribuição estar privatizada. E este facto é relevante, pois a maior parte da população de determinados concelhos nem sequer sabe disso. Uma pessoa de Matosinhos assegurava conhecer a empresa de distribuição de água no concelho, embora admitisse que nunca tinha visto aquela marca de água no supermercado... Privatizar a captação de água não é só privatizar um recurso natural (ainda) abundante e que representa as reservas do país em recursos naturais. Representa também colocar a vida de milhões de pessoas nas mãos de alguém – que pode ou não ter escrúpulos. Porque a água é essencial à vida. Ninguém diz nada.
O silêncio que assola o povo português é inversamente proporcional à intensidade dos esforços para a reduzir à escravatura mais básica, simbolizada pela impossibilidade de beber um copo de água que seja portuguesa, bem como o escravo. Nem isso. Mas a verdade é que as coisas estão a decorrer, e a verdade é que todos vamos pagar. Não me acredito que medidas como este novo imposto sejam isoladas. Aliás, acredito plenamente que tanto o 13ºmês de 2011 como o subsídio de férias de 2012 sejam miragens. Aumentos no trabalho, talvez. Salariais esqueçam. Mais precariedade no trabalho, a que agora chamam pomposamente flexibilidade laboral, com certeza. Menos rendimentos para quem trabalha, mais rendimentos para quem se limita a escrever zeros num ecrã de computador, sim. Mais fome do que aquela que existe – e já existe tanta neste país – será uma realidade. No fundo, o que interessa é que o fluxo de dinheiro do fundo para o topo da cadeia de predação continue, agora de forma mais descarada e despudorada.
Ninguém diz nada.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O FARSOLA

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O Presidente da República considera «não haver a mínima justificação» para o corte de 'rating' a Portugal por parte da agência de notação financeira Moody's e defende uma "resposta europeia" nesta matéria, disse à Lusa fonte oficial de Belém.”
Não sei o que diga deste personagem. O distinto e eminente economista que preside à nossa república é um daqueles personagens que não interessa conhecer no mundo dos negócios. Se o tivesse como potencial cliente, rejeitá-lo-ia de imediato. Um personagem menor, uma aberração da política portuguesa, uma múmia sem palavra nem a mínima coerência.
O pior político da era moderna em portugal, no dia 9 de novembro de 2010, veio a terreiro, depois de longo silêncio, falar sobre a então vertiginosa subida dos juros da dívida pública e das sucessivas baixas de notação por parte das agências de rating.
Na altura, e se bem se lembram, este ser mesquinho e vendido veio defender que a posição do país era insustentável e que essa situação era, afinal, aquilo que motivava as baixas de notação pelas agências, pois os mercados estavam nervosos. Nessa mesma comunicação, o nosso infeliz presidente lembrou que era necessário enviar aos mercados as mensagens certas – de rigor, de austeridade – e que por certo, o ciclo se inverteria. Acrescentou ainda este político menor com pseudo-cérebro que não valia a pena alguém se insurgir contra os mercados e contra as agências de rating, pois estas obedeciam a regras muito bem definidas a que obedeciam estritamente, sendo o seu papel valioso na regulação dos mercados. Naquela altura, Cavaco considerava que as agências de rating apenas faziam o seu trabalho.
Hoje, Cavaco disse aquilo que ali está em cima. Hoje, Cavaco está desconcertado, incomodado, preocupado. Andou a dizer tanta baboseira da boca para fora para arrumar com o mentiroso compulsivo e pôr em S.Bento um boy da sua cepa, para agora virem lá os gajos dos States lixar o rating do país, depois das medidas tão corajosas do seu menino!!! Que Cavaco não é grande espingarda, já eu sei e já o sei há uns 25 anos. Que haja gente que ainda goste dele, não compreendo mas aceito.
Não tenho é memória curta. É um farsola. É um parodiante que há muito perdeu a graça e que há um bom par de anos devia estar internado num hospital psiquiátrico. Pena é que um farsola, o maior incompetente que apareceu na política portuguesa, tenha chegado ao poder em Portugal e destruído tudo o que o país tinha de produtivo. Lançou os foguetes, os outros que apanhem as canas! Que tenha vergonha, pelo menos! Não anda por aí o Juan Carlos?

domingo, 3 de julho de 2011

A GANGRENA

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Preocupa-me, de certa forma, que haja lojas de porcelana em que não nos possamos mover livremente, imposição do dono da loja, sempre disposto a chamar a segurança caso rocemos num qualquer brilhante e frágil objecto. A determinado momento, entra o tão mal afamado elefante na loja e toda a gente, inclusivamente o antes tão persuasivo e activo dono da mesma, o ignora nos seus movimentos, não desastrados por natureza, mas por natureza largos de ossos.
A Europa é uma loja de porcelanas. O seu dono, a Alemanha, o principal segurança a França. Os objectos de porcelana são o Euro. Nós somos os clientes que não se podem mexer, e quando digo nós, refiro-me a uma larga franja dos países europeus, apelidados de periféricos, assim como quem refere, desde o Cais do Sodré, a malta da “outra margem”. O elefante é a crise.
Preocupa-me que a morte do euro esteja tão próxima e todos estejam tão empenhados em o equilibrar, não o deixar cair da sua altaneira prateleira, desconhecendo por certo que esta porcelana é de um raro tipo, do tipo que respira e tem vida, e essa vida está prestes a esvair-se perante a acção de um cancro ou quiçá, de um qualquer ataque de E.Coli.
As causas são diversas. A doença parece ter metástases que se infiltraram até no cérebro do paciente, o BCE, ou como quem diz, a Alemanha e a França. O cérebro quase parou, o resto do corpo jaz inerte perante o gáudio daqueles que se preparam para dividir entre si os despojos, quais abutres famintos, deixando os ossos brilhantes ao sol impiedoso do deserto. As hienas refastelam-se.
Portugal faz parte desta história. É para ali um osso perdido no meio da carne putrefacta. A pouca carne que lhe está agarrada está prestes a ser sugada por duas fileiras de dentes aguçados. A Grécia já se descarnou. A Irlanda partiu e sugam-lhe o tutano. Estes três países sairão do Euro muito em breve. Com dívidas avultadas, mercê de diversos factores diferentes entre si, estes países serão em breve expulsos virtualmente da zona euro. Serão sacados ao corpo do Euro, numa intervenção cirúrgica sem anestesia.
Uma das causas, que me parece tão evidente que quase é ridículo falar nisto, é a estanquicidade do euro. A moeda tornou-se muito forte, tornou-se, a nível mundial, uma referência. Muitos negócios são já feitos em euros a nível global. Pessoas que, como eu, estão mais interessadas em conhecer o mundo do que em gastar fortunas vendo coisas que vemos todos os dias em Portugal, preferem passar férias fora da Europa. Levamos euros que deixamos espalhados por esse mundo fora, pelo Norte de África, pela Ásia, pelas Américas. A moeda dissemina-se a um ritmo alucinante. Mas a Europa alemã não permite que seja emitida mais moeda.
Os países periféricos tornaram-se eminentemente importadores, por obra e graça dos centrais, que tudo ditam na Europa, e que decidiram que os periféricos não podem produzir nada a não ser ar e vento, e talvez algum turismo para os abastados habitantes dos centrais. As importações levam os euros a viajar pelo mundo fora. Mas como o número de euros se mantém constante, e se estão espalhados irreversivelmente por esse tal mundo, faltam em qualquer lado, ou seja, aqui. A Europa é um dador de sangue gigantesco, que deu sangue a todos os que lho pediram ou simplesmente a parasitaram. Agora, a Europa tem pouco sangue. O cérebro exige uma enorme quantidade desse sangue para continuar a funcionar, e esse sangue dirige-se, obedientemente, para as células cerebrais. Os membros e órgãos periféricos, como Portugal, Irlanda ou Grécia são deixados exangues, adormecidos e atacados por essa doença terrível que é a gangrena. Terão de ser cortados e deitados fora, antes que as hienas comam o cérebro.
Os bancos portugueses, irlandeses e gregos não emprestaram aquilo que não tinham financeiramente falando. Bem, se calhar os irlandeses fizeram-no. Simplesmente, quando é necessária moeda viva, não há. Não existe um volume de euros suficiente para que a economia funcione. O euro digital deixou de ter correspondência com o euro real, aquele que cada vez menos guardamos, dobrado, na nossa carteira. E há um ponto, na cadeia de financiamento, em que as transferências digitais se tem de converter em notas do BCE. Mas não há. Não há sangue, o membro começa a gangrenar.
A acrescer a isto, há um outro problema. O sistema digital de circulação de capitais em euros é rendibilizado. Ou seja, e naturalmente, quem cede quantias digitais de dinheiro, exige que contra essa cedência lhes sejam entregues juros. Em clima de crescimento acentuado, esses juros podem ser suportados pelo acréscimo de actividade económica, desde que, sobre esse acréscimo sejam emitidos novos euros em conformidade. Mais ou menos o que se passa na espinal medula, que produz novo sangue perante evidências de que o corpo se encontre saudável. Mas, como vimos, não existe nova emissão de moeda. Os juros exigidos apenas poderão ser pagos se crescermos, mas se ao mesmo tempo fizermos crescer o euro. O que acontece é que não há euros para pagar juros. Não há dinheiro que suporte a multiplicação do dinheiro. Isto porque, numa economia estanque, não pode haver financiamento, cada um tem de financiar as suas actividades, pois a manta não estica.
endemicamente marginais, como a Espanha, a Itália ou a Bélgica, ou mesmos recessões violentas, como o que acontece actualmente em Portugal, Grécia e Irlanda, temos aqui uma gangrena generalizada.
A Europa vai cortar os membros adormecidos e atacados de gangrena. O problema põe-se: poderá um corpo sobreviver sem membros e mesmo sem alguns órgãos periféricos, perante o ataque das hienas e dos abutres? Não, a Europa definhará longamente até ser totalmente consumida. Em breve, no espaço de uma geração, a Europa permanecerá um sonho bonito que numa determinada altura quis juntar diferentes povos, concepções, formas de viver, sem ter atenção a esses mesmos pormenores que, afinal, são pormaiores.
Entretanto, o Euro, a afirmação arrogante desta amálgama sem sentido de países totalmente diferentes, desaparecerá sem deixar grande rasto. E isso não demorará uma geração a concretizar-se.

sábado, 2 de julho de 2011

CLASSE MÉDIA E A POUPANÇA

Foto RTP - não sei se custam 80 contos!

A partir deste artigo, pensei em reescrever o que nele está escrito, porque realmente me revejo numa classe média que não deve ser a mesma do senhor que o escreveu:

Fazer a mesma vida gastando uma décima quinta parte do que o autor do artigo original gasta para sair de casa:
Não vou aqui discorrer porque devem as empresas ser aliviadas e os pobres poupados aos sacrifícios. As empresas seriam menos aliviadas se os empresários não as aliviassem tanto, através dos stands da Mercedes, e os pobres até poderiam não ser poupados, se não os tivessem fodido já há muito tempo e não tivessem de trabalhar para as empresas aliviadas.
Passemos, pois, às dicas para poupar. Nos restaurantes desperdiça-se comida, é um facto. Muitas doses vão quase intactas para trás, porque são demasiado grandes, e é preciso perceber que quanto mais vier para trás, mais o dono do restaurante ganha. Não acreditam? Acreditem, vocês pagam sempre pela dose inteira, e se for grande, pagam muito mais. Ao dono do restaurante pouco se lhe dá como se lhe deu que não comam, já pagaram e já.
Nos cafés. Nada como poupar como eu faço, que bebo o café sem açúcar, ao contrário do autor do artigo, que ainda por cima, usa apenas uma pequena parte do pacotinho para adoçar o café. Beba sem açúcar, verá que lhe faz melhor à saúde e não vai nada para o lixo. Frequente cafés que levem menos de dois euros por café, e assim não verá açúcar branco, escuro, adoçante e canela no pires (pratinho que vem por baixo da chávena). Já agora, se forem a esses cafés, não metam o que não usaram ao lixo, porque o estabelecimento também não o fará. O ambiente agradece.
Ainda no ramo da alimentação, comprem uma garrafa de água de Luso, bebam-na com moderação, com ou sem medicamentos para o castrol. Depois, em vez de a colocar no lixo, levem-na para casa. No dia seguinte, encham-na na torneira e levem-na para o trabalho. Não procurem consumir águas com nomes sugestivos, como Voss, Vittel, ou Vichy, pois aquilo que não conhecemos não bebemos. Como nunca vi dessas águas à venda nos estabelecimentos que frequento, corro menos esse risco... Quanto a cerveja, é beber mines Sagres e mainada, dantes era a Super Bock mas agora esses venderam a alma ao diabo. Heineken e Carlsberg são cervejas para quem ainda não definiu a sua orientação sexual.
Quanto aos vinhos, a melhor opção, nos restaurantes, é não os beber. Portugueses ou estrangeiros, são sempre caros como o catano e custam mais que o prato. Por muito que custe, não bebam, até porque depois terão de conduzir. No capítulo dos espumantes, bebam Raposeira, porque nunca hão-de ter massa para beber Cristal ou Moet, por isso, é mesmo a solução. Gasosa da Gruta da Lomba é mais doce e também faz espuma e bolinhas.
No que diz respeito aos vícios, no de fumar, diz o senhor autor do artigo, que se pode preferir SG ou Suave ao Marlboro ou Chester. Como eu fumo tabaco de enrolar, consigo poupar um pouco mais. E melhor ainda é ter um cigarro electrónico que nos reduza o vício ao acto de tomar café (sem acúcar, tanto o café como o cigarro). O autor não fala, mas quanto ao vício do fazer o chamado amor, em vez de usarem preservativos em látex fino e transparente, podem usar um dedo de uma luva de cozinha. Têm é de ser rápidos no momento certo, e retirar aquilo antes, porque senão rebentam os colhões.
Comprar, na praça (ou, como os mais pobres fazem, nos hipers), verduras e legumes portugueses é mais barato que comprar os importados. Basta comprar um kg de banana da Madeira a 3 euros. Não precisam de comprar quatro kgs de banana de Porto Rico a 0,99 euros... Mas se encontrarem algum produto português à venda, comprem-no, nem que seja mais caro. Não encontram? Pois, bem me parecia.
No vestuário a poupança pode ser muito significativa. Em vez de comprarem fatos Armani, que vos custariam o ordenado de um ano, podem experimentar ir a uma boa casa de chineses ou aos ciganos na feira. Às vezes, até se encontram Armanis com pequenos defeitos de linguagem – são Garmanis ou Arnami, mas até parecem verdadeiros. Podem poupar nos pólos, isto porque ao fim e ao cabo, não é peça de roupa que um homem a sério use na rua. Quanto aos sapatos, é bem verdade que nunca comprei um par de sapatos de 80 contos. O mais caro que comprei foi o par de sapatos do meu casamento, e acho que andavam pelos 75 euros. Estão em bom estado. E realmente pode comprar-se bons sapatos no chinês ou nos ciganos, e duram tanto como os outros e às vezes até mais. Chegam a dar para uma segunda utilização, e é curioso que nunca tive nenhuma queda aparatosa devido aos sapatos. Foi mais devido à gravidade.
Não fazer férias no estrangeiro é uma excelente opção. Não há razão nenhuma para gastarmos mil euros numas férias no estrangeiro quando podemos gastar dois mil no Algarve, sendo que duzentos e cinquenta são para a viagem... Mas claro que podemos ir de comboio, mas aí não teríamos o conforto de ter o carro à porta do Hotel, coisa que nunca podemos fazer, mas que convém dizer para ficar bem, como o autor do artigo bem sabe.
Audi A4 em vez de um A6. No meu caso, posso sempre preferir um Seat Ibiza de 15 anos, em vez do Seat Ibiza de 13 anos que possuo. Há sempre forma de poupar, como vêem... Voltando às férias, porque não experimentar um parque de campismo, em vez de um hotel de 3 estrelas? Já não falo, como diz o autor do artigo acima linkado, de hotéis de cinco estrelas. Isso apenas e só no estrangeiro não-europeu. Aí, confesso, por mais cem euros por semana, prefiro o 5 a um 3... Ora ir de avião para estas férias é uma realidade, e eu nunca escolho turística. As companhias em que voo não têm separação de categorias. Excepto a Turkish e a Egypt Air. A primeira é de luxo e deve achar-me com cara de classe média... A segunda é muito melhor que a TAP e por isso acha que qualquer português está habituado – mandam-me sempre para turística... Um dia hei-de fazer uma viagem de avião em executiva, só para experimentar. Mas isso quando pertencer à classe média do autor do artigo...
Novas tecnologias. Podemos poupar muito dinheiro se comprarmos um telemóvel por 20 euros nos pontos da Optimus, como eu faço, em vez de Ipads e Ipods. E não ter computador? É uma limpeza. É verdade que este é da companhia, mas a minha mulher tem um há seis anos e ainda funciona!!!! Por falar nisso, tenho de carregar o telemóvel. Não tenho saldo vai para 15 dias e posso precisar de fazer uma chamada para alguém...
Quanto ao ar condicionado, está ligado neste preciso momento. Ao cair da noite, liguei-o, ao abrir os vidros e subir as persianas. Não vejo onde está o grande gasto...
Quando comprei casa, não andei à procura de materiais porque o apartamento já os tinha e não estava para gastar uma fortuna em remodelações, mas se tivesse de fazer isso, como os senhor do artigo, não sei como iria poupar. Mas cimento cru é mais barato que azulejos.
Luxos e extravagâncias!! Ora aí está um item em que posso poupar, segundo o distinto autor do artigo. Quem precisa de after-shaves e desodorizantes? Eu adoro andar a cheirar a cavalo. Aliás, nem sequer tomo banho com água Voss, tomo da torneira (!)... Para aí uma vez ao ano ou quê. Quando chove, tiro a roupa na varanda e a coisa vai-se mantendo... Ir ao cabeleireiro cinco vezes... Ora, vou essas cinco vezes no ano, mais ou menos. E chega. 6 ou 7 euros de cada vez... Mas o autor diz que se formos apenas quatro, poupamos 20%... O autor deve ser injinheiro, pois sabe fazer contas muito complicadas...
E poderíamos falar de muitas mais coisas, como diz o autor. E podíamos!!! Que dizer desse mau hábito que é o de comer??? É que comemos sete dias por semana! Se comêssemos apenas três dias por semana, pouparíamos uma carrada de por centos, que eu agora não estou para fazer a conta e não é certa e coiso. E que tal cortar no sexo? Lembrem-se que fazer o dito amor gasta calorias e a gente tem de comer mais para as repor. Outra coisa que temos de nos convencer que temos de fazer menos vezes é trabalhar. A gente trabalha vezes demais por semana. Além das calorias gastas, há transportes e despesas que poderíamos reduzir a 40% se apenas trabalhássemos dois dias por semana!

Está reescrito. Dedico-o ao autor do original. Como ainda ontem insistia com uma pessoa bem conhecida de todos os que aqui vêm, as pessoas não podem ter valores se não conhecerem a realidade. Podem ser educadas, podem ser esmeradas, boas, trabalhadoras e motivadas. Mas se nunca conhecerem a realidade que os rodeia e não apenas a jaulazinha onde vivem, nunca hão-de criar VALORES. Este senhor autor de artigos insultuosos demonstra-o mais que cabalmente. Demonstra-o definitivamente. E, por mim, e sinceramente porque me falta a pachorra, pode ir andando para a real puta que o pariu. Não se preocupe, com a crise que aí vem, todos nós, os de classe média, irão ter consigo não tarda nada.